A intenção do homem em ligar-se afetivamente aos animais de companhia é uma das consequências do processo de domesticação das espécies animais. Ações progressivas e constantes na sociedade contemporânea favoreceram que cães e gatos alcançassem o lugar de importância de hoje. A família multiespécie surge dos laços afetivos criados no convívio íntimo entre humanos e seus parceiros animais, na nossa disposição em encontrar qualidades elevadas que sejam atribuídas aos nossos pets.
O vínculo interespécie tem poder de nos seduzir uma vez que o animal não se coloca indiferente ao seu par humano; a retribuição humana ao amor animal é certa, segura e constante, uma conexão que se apresenta como perfeita, pois não sofre o desgaste das relações amorosas humanas.
Os animais de estimação ainda são extremamente hábeis em se comunicar conosco, mesmo que de forma não discursiva. Eles são capazes de compreender gestos, tons de voz e expressões das emoções humanas, bem como reconhecer seus tutores pelo olhar, som e cheiro; também possuem senso de separação, perda e morte. Essa notável capacidade de compreensão animal sobre o humano é interpretada por nós como algo muito curioso e atraente, nos impelindo a assumir comportamentos de cuidado, nutrição e proteção, semelhante ao comportamento maternal.
Uma recente pesquisa japonesa estudou a influência do comportamento de “choro” de cães sobre seus tutores, mesmo em condições simuladas. Em humanos a secreção de lágrimas ocorre em resposta a excitações emocionais, sendo o chorar uma forma de comunicação visual não verbal. Até então não haviam estudos investigando a conexão entre emoções e a produção de lágrimas em animais.
Cães são animais que possuem habilidades sócio-cognitivas semelhantes aos humanos. Estudos prévios já haviam confirmado que o contato visual entre cães e humanos induz ao comportamento de cuidado modulado pela ocitocina, hormônio produzido no hipotálamo que estimula a agregação social (Nagasawa et al, Hormones and Behavior, 2009; Beetz el al, Frontiers Psychology. 2012)
Em recente estudo publicado por pesquisadores japoneses (Murata et al., Current Biology 2022) a hipótese de que cães são estimulados emotivamente a produzir lágrimas (“chorar de felicidade”) quando reencontram seus tutores é confirmado, comportamento este também modulado pela secreção da ocitocina (vide resumo da metodologia do experimento no vídeo
http://dx.doi. org/10.1016/j.cub.2022.07.031#mmc3
Os resultados do estudo respaldam a experiência de uma comunicação sensorial efetiva entre nós e nossos pets, proporcionando o aprofundamento e a consolidação dos vínculos interespécies.