Casos de sucesso são motivos de alegria para a equipe da Onco Cane e, o caso Ginger, Yorkshire, 12 anos, é um deles!

Em meados de abril recebi os responsáveis do Ginger para consulta na Onco Cane pois o paciente havia sido submetido a um exame ultrassonográfico que identificou duas formações volumosas (massas) no fígado com intenso fluxo de sangue em seu interior, uma das massas compreendia cerca de 10 cm de diâmetro, bastante grande para um cãozinho de 5,5 kg.

As formações juntas ocupavam volume e espaço na cavidade abdominal que levava à compressão de um importante vaso do fígado (a veia porta) o que comprometia a circulação hepática bem como, compressão da vesícula biliar.

Os responsáveis foram então esclarecidos quanto à indicação de cirurgia (lobectomia hepática) como tratamento inicial.

O procedimento cirúrgico transcorreu sem complicações e, logo após o retorno anestésico, o paciente foi admitido para a unidade de terapia intensiva e permaneceu com parâmetros estáveis nas horas subsequentes à cirurgia.

Porém, cerca de 12 horas após admissão do paciente à UTI, a equipe de intensivas observou que Ginger apresentava um comportamento estranho com diminuição dos reflexos normais, olhar “ausente”, andar em círculos e intenção em manter a cabeça pressionada à uma parede (a isso chamamos head-pressing, é uma postura característica quando o paciente apresenta alterações neurológicas). A partir desta observação estabelecemos tratamento suporte com oxigenador cerebral e corticóide na intenção de favorecer a melhora de fluxo sanguíneo, oxigenação e proteção do sistema nervoso central.

Também foi observado que o paciente permaneceu em quadro de anúria (ausência de produção de urina) por 17.horas após a cirurgia, um sinal claro que os rins do Ginger não estavam funcionando, sugerindo um quadro de insuficiência renal aguda (IRA), confirmada pela elevação da ureia (415) e creatinina (7,86), sendo que os valores de normalidade para a espécie é de cerca de 60 e 1,6, respectivamente.

Na intenção de diminuir estes valores decidimos pela intensificação da fluidoterapia porém, sem resultado satisfatório.  Decidimos então pela realização do procedimento de diálise peritoneal, uma técnica onde realiza-se  infusão de uma solução de diálise dentro do abdômen do paciente na intenção de “absorver” as toxinas e eletrólitos que o organismo não consegue eliminar durante o período que os rins  não estão desempenhando esta função.

Foram necessários 2 dias para que a diálise eliminasse o excesso de toxinas no organismo do Ginger e, como resposta constatamos diminuição dos valores de ureia e creatinina em cerca de 30%, além da produção de urina, um sinal importante de recuperação.

Clinicamente Ginger já apresentava sinais claros de melhora porém ainda inspirava cuidados, principalmente quanto à necessidade de continuidade da fluidoterapia e também pelo quadro de anemia importante. Havia indicação para uma transfusão de sangue porém, temíamos que, as reações transfusionais pudessem piorar o quadro de IRA.

Aos 7 dias de internação decidimos pela transfusão de sangue uma vez que haveria melhora de perfusão (oxigenação) tanto dos rins, do SNC como também dos demais tecidos e, para nossa alegria, não foram observadas reações transfusionais que comprometessem ainda mais nosso paciente.

Finalmente, depois de uma longa internação de 8 dias,  Ginger pode voltar para casa e desfrutar da companhia de seus responsáveis bem como do seu inseparável amigo Twingo. Atualmente o Ginger ainda necessita de suporte para manutenção dos valores de creatinina e ureia, ainda sutilmente elevadas, (cerca de 1,8 e 87, respectivamente) mas, já está de volta à sua rotina habitual!

Ginger e Twingo – amigos inseparáveis!

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